"Mas ele desconhecia esse fato extraordinário: que o operário faz a coisa e a coisa faz o operário. De forma que, certo dia à mesa, ao cortar o pão o operário foi tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela mesa– Garrafa, prato, facão – era ele quem os fazia ele, um humilde operário, um operário em construção. Olhou em torno: gamela banco, enxerga, caldeirão vidro, parede, janela casa, cidade, nação! Tudo, tudo o que existia era ele quem o fazia ele, um humilde operário um operário que sabia exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento não sabereis nunca o quanto aquele humilde operário soube naquele momento! Naquela casa vazia que ele mesmo levantara um mundo novo nascia de que sequer suspeitava.
Ah, homens de pensamento não sabereis nunca o quanto aquele humilde operário soube naquele momento! Naquela casa vazia que ele mesmo levantara um mundo novo nascia de que sequer suspeitava.
O operário emocionado olhou sua própria mão sua rude mão de operário de operário em construção e olhando bem para ela teve um segundo a impressão de que não havia no mundo coisa que fosse mais bela.
Foi dentro da compreensão desse instante solitário que, tal sua construção cresceu também o operário. Cresceu em alto e profundo em largo e no coração e como tudo que cresce ele não cresceu em vão."
Foi dentro da compreensão desse instante solitário que, tal sua construção cresceu também o operário. Cresceu em alto e profundo em largo e no coração e como tudo que cresce ele não cresceu em vão."
Vinícius de Moraes