terça-feira, 31 de março de 2009

"Faz parte"

"Trazes a vida nos braços
Pousas o mundo no chão
Largue os medos na estrada
E desmontas cada peça
De que é feito o coração
Deixas lá fora o cansaço
Desarmas a solidão
Brindas sonhos ao relento
Como quem junta os pedaços
Entre a loucura e a razão
Faz parte ser um pouco perdido
Faz parte começar outra vez
Faz parte ir atrás dos sentidos
E voar a sentir o mundo na ponta dos pés
Guardas a vida nos braços
Pousas os dias no chão
Brinda sonhos ao relento
Como quem junta os pedaços
De quem é feito o coração
Trazes o tempo desfeito
No que procuras em ti
Se olhares no fundo do peito
Saberás quem és
Mesmo até ao fim
Faz parte ser um pouco perdido
Faz parte começar outra vez
Faz parte ir atrás dos sentidos
E voar a sentir o mundo na ponte"

Mafalda Veiga


Obrigada Tânia :)

sexta-feira, 27 de março de 2009

OPINIÕES

"Porque as mulheres


fazem a Democracia melhor"




Ontem, numa de muitas viagens de comboio tive desprazer de dar de caras com um cartaz que tinha como "manchete" a frase acima escrita. Confesso que me incomodou, esta necessidade de afirmação, a meu ver, feita pela negativa.

As mulheres não são mais, nem menos que os homens, não fazem nada melhor ou pior. são apenas capazes de fazer um pouco de tudo assim como nos homens... A diferença (e a aceitação da mesma) não requer tanta competição, aliás, não pede competição alguma! Ser mulher e ser homem é diferente, são mundos/ formas de estar e de pensar diferentes (como em muitos outros contextos).

Não existem duas pessoas iguais, independentemente do sexo a que pertencem, não tem (para mim) sentido reclamar direitos iguais, mas sim o respeito por todos, enquanto seres humanos ( pois se houver respeito, os nossos direitos estão assegurados).

Não encontro nada de prejorativo em termos papéis sociais diferentes.

Não me sinto menos capaz por ser mulher...

E não são as mulheres que fazem a democracia melhor, mas sim todos juntos, num caminho para a aceitação da diferença, seja ela qual for ( sexo, género, idade, etnia,,,cultura).



segunda-feira, 23 de março de 2009

valsinha

Valsinha(Chico Buarque e Vinícius de Moraes)


Um dia ele chegou tão diferente
Do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente
Do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto
Quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto
Pra seu grande espanto convidou-a pra dançar
E então ela se fez bonita
Como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado
Cheirando a guardado de tanto esperar
Depois o dois deram-se os braços
Como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça
E começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança
Que a vizinhanca toda despertou
E foi tanta felicidade
Que toda cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu em paz

Sensibilidades...

O Mundo é de Quem não Sente

"O mundo é de quem não sente. A condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade. A qualidade principal na prática da vida é aquela qualidade que conduz à acção, isto é, a vontade. Ora há duas coisas que estorvam a acção - a sensibilidade e o pensamento analítico, que não é, afinal, mais que o pensamento com sensibilidade. Toda a acção é, por sua natureza, a projecção da personalidade sobre o mundo externo, e como o mundo externo é em grande e principal parte composto por entes humanos, segue que essa projecção da personalidade é essencialmente o atravessarmo-nos no caminho alhieo, o estorvar, ferir e esmagar os outros, conforme o nosso modo de agir.
Para agir é, pois, preciso que nos não figuremos com facilidade as personalidades alheias, as suas dores e alegrias. Quem simpatiza pára. O homem de acção considera o mundo externo como composto exclusivamente de matéria inerte - ou inerte em si mesma, como uma pedra sobre que passa ou que afasta do caminho; ou inerte como um ente humano que, porque não lhe pôde resistir, tanto faz que fosse homem como pedra, pois, como à pedra, ou se afastou ou se passou por cima."


Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'

Sensibilidade e Maturidade

"Uma certa vivacidade de impressões, mais directamente dependentes da sensibilidade física, decresce com a idade. Ao chegar aqui, e sobretudo depois de ter aqui passado alguns dias, não senti, desta vez, essas vagas de tristeza ou de entusiasmo que este local me costumava comunicar, e cuja recordação, depois, me era tão doce. Deixá-lo-ei, se calhar, sem a pena que outrora sentia. O meu espírito, por seu turno, tem hoje uma segurança muito maior, uma maior capacidade de fazer associações e de se exprimir; a inteligência cresceu, mas a alma perdeu parte da sua elasticidade e irritabilidade. E porque é que, ao fim e ao cabo, não partilhará o homem o destino comum de todos os outros seres? Ao pegarmos num fruto delicioso, será justo pretender respirar ao mesmo tempo o perfume da flor? Foi preciso passar pela subtil delicadeza da nossa sensibilidade juvenil para chegar a esta segurança e maturidade do espírito. Talvez os grandes homens - é o que eu penso - sejam aqueles que, numa idade em que a inteligência possui já a sua plena força, ainda conservam parte dessa impetuosidade das impressões, que é própria da juventude."
Eugène Delacroix, in 'Diário'

domingo, 22 de março de 2009

"the long way home"

Take The Long Way Home
Supertramp
So you think you're a Romeo
Playing a part in a picture-show
Take the long way home
Take the long way home
Cos you're the joke of the neighborhood
Why should you care if you're feeling good
Take the long way home
Take the long way home
But there are times that you feel you're part of the scenery
All the greenery is comin' down, boy
And then your wife seems to think you're part of the furniture
Oh, it's peculiar, she used to be so nice
When lonely days turn to lonely nights
You take a trip to the city lights
And take the long way home
Take the long way home
You never see what you want to see
Forever playing to the gallery
You take the long way home
Take the long way home
And when you're up on the stage, it's so unbelievable
Unforgettable, how they adore you
But then your wife seems to think you're losing your sanity
Oh, calamity, is there no way out?
Althought you feel that you life's become a catastrophe
Oh, it has to be for you to grow,
boyWhen you look through the years and see what you could have been
Oh, what you might have beenIf you'd had more time
So, when the day comes to settle down
Who's to blame if you're not around?
You took the long way home
You took the long way home"

sexta-feira, 20 de março de 2009

(...)

(...)
"toca o fogo dos meus cabelos,
toca-me o sangue...
a escuridão em chamas do meu peito"

quarta-feira, 18 de março de 2009

"contradigo a mim mesmo porque sou vasto"



"Esta manhã, antes do alvorecer,
subi numa colina para admirar o céu povoado,
E disse à minha alma:
Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento
e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?
E minha alma disse:
Não, uma vez alcançados esses mundos
prosseguiremos no caminho."



Walt Whitman






"Full of life, now, compact, visible,
I, forty years old the eighty-third Year of The States,
To one a century hence, or any number of centuries hence,
To you, yet unborn, these, seeking you.
When you read these,

I, that was visible, am become invisible;
Now it is you, compact, visible, realizing my poems, seeking me;
Fancying how happy you were, if I could be with you, and become your comrade;
Be it as if I were with you.
(Be not too certain but I am now with you.)"

Walt Whitman

segunda-feira, 16 de março de 2009

"a vida é feita de pequenos nadas"

"(Segunda-feira trabalhei de olhos fechados
na terça-feira acordei impaciente
na quarta-feira vi os meus braços revoltados
na quinta-feira lutei com a minha gente
na sexta-feira soube que ia continuar
no sábado fui à feira do lugar
mais uma corrida, mais uma viagem
fim-de-semana é para ganhar coragem)
Muito boa noite, senhoras e senhores
muito boa noite, meninos e meninas
muito boa noite, Manuéis e Joaquinas
enfim, boa noite, gente de todas as cores e feitios e medidas
e perdoem-me as pessoas que ficaram esquecidas
boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas
a vida é feita de pequenos nadas
(...)
Ouvi dizer que quase tudo vale pouco
quem o diz não vale mesmo nada
porque não julguem que a gente vai ficar aqui especada
à espera que a solução seja servida
em boião com um rótulo: Veneno!
é para tomar desde pequeno às colheradas
a vida é feita de pequenos nadas
boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas."


Sérgio Godinho





sexta-feira, 13 de março de 2009

great pretender



The great pretender, Freddie Mercury





"Oh yes
i'm the great pretender
Pretending I'm doing well
My need is such
I pretend too much
I'm lonely but no one can tell
Oh yes
I'm the great pretender
Adrift in a world of my own
I play the game
but to my real shame
You've left me to dream all alone
Too real is this feeling of make believe
Too real when I feel what
my heart can't conceal
Oh yes
I'm the great pretender
Just laughing and gay like a clown
I seem to be what I'm not
I'm wearing my heart like a crown
Pretending that you're still around
Too real when I feel what
my heart can't conceal
Oh yes I'm the great pretender
Just laughing and gay like a clown
I seem to be what I'm not, you see
I'm wearing my heart like a crown
Pretending that you're"

quinta-feira, 12 de março de 2009

(...)"meus fantasmas"

"Aquele era o tempo
Em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes as palavras voavam,
E eu via que o céu me nascia dos dedos
E a Ursa Maior eram ferros acesos.
Marinheiros perdidos em portos distantes,
Em bares escondidos,
Em sonhos gigantes.
E a cidade vazia,
Da cor do asfalto,
E alguém me pedia que cantasse mais alto.
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e´ a estrada
Aquele era o tempo
Em que as sombras se abriam,
Em que homens negavam
O que outros erguiam.
E eu bebia da vida em goles pequenos,
Tropeçava no riso, abraçava venenos.
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala
Nem a falha no muro.
E alguém me gritava
Com voz de profeta
Que o caminho se faz
Entre o alvo e a seta.
Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e a estrada
De que serve ter o mapa
Se o fim está traçado,
De que serve a terra à vista
Se o barco está parado,
De que serve ter a chave
Se a porta está aberta,
De que servem as palavras
Se a casa está deserta?
Quem me leva os meus fantasmas?"

quarta-feira, 11 de março de 2009

coffee break



"Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor."
Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 9 de março de 2009

"com uma viagem na palma da mão"


"Saltaste o muro e vais continuar

do outro lado da vida

rompeste as grades do teu jardim-prisão

agora estás de pé

agora és mulher

e o teu nome é liberdade!"


Marta

"Com um brilhozinho nos olhos
e a saia rodada
escancaraste a porta do bar
trazias o cabelo aos ombros
passeando de cá para lá
como as ondas do mar.
Conheço tão bem esses olhos
e nunca me enganam,o que é que aconteceu, diz lá
é que hoje fiz um amigo
e coisa mais preciosa no mundo não há.
Com um brilhozinho nos olhos
metemos o carro
muito à frente, muito à frente dos bois
ou seja, fizemos promessas
trocamos retratos
trocamos projectos os dois
trocamos de roupa, trocamos de corpo,
trocamos de beijos, tão bom, é tão bom
e com um brilhozinho nos olhos
tocamos guitarra p'lo menos a julgar pelo som
E que é que foi que ele disse?
E que é que foi que ele disse?
Hoje soube-me a pouco.
passa aí mais um bocadinho
que estou quase a ficar louco
Hoje soube-me a tanto portanto,
Hoje soube-me a pouco
Com um brilhozinho nos olhos
corremos os estores
pusemos a rádio no "on"
acendemos a já costumeira
velinha de igreja
pusemos no "off" o telefone
e olha, não dá p'ra contar
mas sei que tu sabes
daquilo que sabes que eu sei
e com um brilhozinho nos olhos
ficamos parados depois do que não te contei
Com um brilhozinho nos olhos
dissemos, sei láo que nos passou pela tola [o que nos passou pelo goto]
do estilo és o "number one"
dou-te vinte valores
és um treze no totobola [és o seis do meu totoloto]
e às duas por três
bebemos um copo
fizemos o quatro e pintámos o sete
e com um brilhozinho nos olhos
ficamos imóveis
a dar uma de "tête a tête"
E que é que foi que ele disse?...
E com um brilhozinho nos olhos
tentamos saber
para lá do que muito se amou
quem éramos nós
quem queríamos ser
e quais as esperanças
que a vida roubou
e olhei-o de longe
e mirei-o de perto
que quem não vê caras
não vê corações
com um brilhozinho nos olhos
guardei um amigo
que é coisa que vale milhões."

Sérgio Godinho

sexta-feira, 6 de março de 2009

dente de leão




belo
delicado
desejado
frágil
ou simplesmente...
dente de leão...
ou simplesmente
metáfora
ou o que quiseres que seja

quinta-feira, 5 de março de 2009