sexta-feira, 27 de março de 2009

OPINIÕES

"Porque as mulheres


fazem a Democracia melhor"




Ontem, numa de muitas viagens de comboio tive desprazer de dar de caras com um cartaz que tinha como "manchete" a frase acima escrita. Confesso que me incomodou, esta necessidade de afirmação, a meu ver, feita pela negativa.

As mulheres não são mais, nem menos que os homens, não fazem nada melhor ou pior. são apenas capazes de fazer um pouco de tudo assim como nos homens... A diferença (e a aceitação da mesma) não requer tanta competição, aliás, não pede competição alguma! Ser mulher e ser homem é diferente, são mundos/ formas de estar e de pensar diferentes (como em muitos outros contextos).

Não existem duas pessoas iguais, independentemente do sexo a que pertencem, não tem (para mim) sentido reclamar direitos iguais, mas sim o respeito por todos, enquanto seres humanos ( pois se houver respeito, os nossos direitos estão assegurados).

Não encontro nada de prejorativo em termos papéis sociais diferentes.

Não me sinto menos capaz por ser mulher...

E não são as mulheres que fazem a democracia melhor, mas sim todos juntos, num caminho para a aceitação da diferença, seja ela qual for ( sexo, género, idade, etnia,,,cultura).



2 comentários:

  1. Antes de começar a escrever qualquer coisa, peço desculpa pelo atraso no comentário...

    Não discordo com nada que escreveste, por isso vamos primeiro ao que concordo de forma clara: a publicidade. Ainda não vi o cartaz, mas já a tinha visto na TV e acho uma escolha bastante infeliz - quer ao nível da estrutura da frase, quer ao nível das palavras. Primeiro, no todo - «as mulheres fazem uma democracia melhor» -, não fazem uma melhor democracia, mas uma «democracia melhor», que lhe tratam a saúde ou lhe dão canja quando está doente e miminhos quando precisa; se a primeira hipótese me parece infeliz, não são as mulheres ou os homens que fazem um sistema democrático mais justo (não pus o qualificativo «melhor», por motivos que estarão escritos no segundo ponto), mas os cidadãos ou as cidadãs e no último caso o Homem, já a original remete as mulheres a um papel secundário, como se fossem uma vitamina necessária para a boa saúde da democracia (ou para papel de mães, mas não iremos considerar o autor, o grupo ou a empresa responsável por certa misoginia). Segundo, qualificar a democracia de melhor ou pior é uma estupidez, ou existe ou não existe democracia, ou estamos num estado de direito ou não estamos, ou é igualitário ou não é, ou é uma democracia directa ou indirecta, ou é um estado plural ou não, etc. - qualificativos deste estilo são insípidos. Terceiro, este slogan está a dar a um órgão do estado português o direito de considerar o que é ou não é uma «democracia melhor», podendo usar estes moldes tão subjectivos como «melhor ou pior», bom ou mau, sobre qualquer outro estado democrático ou não - dando autoridade a um órgão, seja soberano ou não, que não deve ter. Por último, o quarto, é sobre a outra frase, que não mencionaste - «A diferença faz a igualdade» - a diferença nunca fez a igualdade, a diferença faz a diferença, a diferença no máximo pode mostrar que a democracia funciona, a igualdade também, mas nem sempre a igualdade é algo de bom - é, infelizmente (ou felizmente, ficarei à espera que a AR ou o CIG me ajudem a definir isso), uma longa mania portuguesa de encontrar a diferença una…

    Acabando com a análise da má publicidade feita, que só se justifica pela pouco capacidade nesta área destes sujeitos, pelo desconhecimento total da sociedade e da política, mostrando que capacidades soltas nada fazem e que a especialização pode dar pouca qualidade - como posso dizer, Esta publicidade não faz uma democracia melhor e a diferença não é sinal de inteligência.

    Agora vamos para a parte em que não concordo tanto contigo: a mulher na sociedade actual e, fundamentalmente - porque é o tema que estamos a discutir -, na democracia. A desigualdade entre os géneros ainda existe e quando falamos disto não fazemos referência à anatomia, cultura ou ideias (que são diferentes em cada pessoa). Falamos no papel social e aí é necessário que se lute para uma igualdade entre géneros, etnias e classes sociais; mas continuo a não achar que será por leis de paridade que se fará uma maior igualdade, deverá ser por acções - onde a Assembleia República e a Comissão para Igualdade de Géneros (CIG) têm um papel importante - que possibilitem a competência. Se queremos igualdade de tratamento, será cada vez mais necessário que os órgãos de soberania (Presidente da República, AR, Governo e tribunais) sejam os primeiros a fazê-lo ou então não queremos - e de facto muita gente não quer, porque prefere dar emprego aos mesmos círculos, condições e pensamentos; a competência e o carácter ficam para segundo ou terceiro plano, em órgãos que os principais critérios deveriam ser esses. Qualquer lei de paridade é um engodo, além de se tornar humilhante, porque não permite a igualdade e na «discriminação positiva» incentiva à tal discriminação negativa, pondo em causa, através da lei, as capacidades dos géneros ou raças - não acredito que se possa olhar para uma mulher no parlamento sem nenhum tipo de desconfiança, depois da lei da paridade, como para os índios das universidades brasileiras.

    A diferença é positiva, a diferença de pensamento é o exemplo mais flagrante, mas é necessário que se lute por algumas igualdades para termos um sistema cada vez mais justo e equitativo e essa luta virá do dia-a-dia, do nosso e das instituições - não por leis deste tipo, mas por acções governativas; as mulheres continuam a ser aquelas que recebem menos, as que têm maior dificuldade em chegar aos lugares de chefia e as que têm maior percentagem de desemprego. Quando tudo muda, as mentalidades continuam na mesma, são aquelas que demoram mais tempo e não será por leis deste tipo que elas vão mudar, mas por uma acção cultural e estatal mais ampla.

    Peço desculpa se estiver confuso, é da hora e do pouco tempo...

    P.S.:Fui picuinhas na análise da publicidade, porque ela é feita para um órgão político que devia de ser mais independente que um partido ou que a Unicer...

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  2. Ora aqui está um artigo em que dás a tua opinião... E acho que é o primeiro.
    Muito bom, na minha opinião. Válido e realista.

    De facto é um tipo de mensagem que, só por si, não ajuda mas destrói-lhe o próprio conceito.

    Porquê?
    Primeiro porque começa pela palavra “porque”.
    “Porque” é usado para explicar algo; algo que não é indicado.
    A frase não é uma afirmação; logo é necessário justificar qualquer coisa para dar a entender que são as mulheres que ajudam na democracia.
    ERRADO. Toda a gente ajuda na democracia e, como disseste, ninguém é mais nem menos que os outros. A diferença existe de forma positiva.
    Segundo prende-se com o facto de fazer “melhor”.
    ERRADO. Parece que a democracia, caso as mulheres não se interessassem, seria algo mau.
    De facto não fazem melhor; fazem mais justa, mais realista e contribuem para a sua evolução.
    Assim, com esta frase, tudo o que se diz é que, as mulheres são superiores e sem elas nada está correcto…

    Por último esta tua opinião, mesmo que justa e equalitária, põe-te acima da média das mulheres.
    Apenas porque grande parte acredita piamente na veracidade desta frase.
    A tua maneira de ser está acima do normal duma maneira positiva. Algo um pouco raro hoje em dia!!!
    Os meus Parabéns!

    Atentamente,
    Pedro Guedes Fonseca
    www.Prosador.blogspot.com

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