(...) "Mas pensem uma só vez:que fazem os nossos pais? Andam de cá para lá com um ar zangado e ofendido, nada os contenta, gritam e ralham, e no entanto são de uma tal apatia que, se o mundo acabasse, quase não dariam por isso. (...) Talvez sejam uma espécie de crianças pequenas, que não se podem deixar sozinhos e dão muito trabalho; mas então não nos deviam ter tido. Pois, meus meninos, eu penso assim: é deveras lastimável que os nossos pais nos desprezem. Mas nós suportaríamos sempre isso se não se provasse que os adultos se vão tornando parvos e caducos, se é permitido dizê-lo. Não somos capazes de lhes aparar a queda, pois durante todo o dia não podemos influenciá-los de maneira nenhuma, e, quando voltamos da escola para casa tarde, ninguém pode exigir que nos sentemos e tentemos interessá-los em algo sensato. Dói-nos muito estar assim sentados horas esquecidas, debaixo do candeeiro, e que a mãe nem sequer entenda o teorema de Pitágoras. Paciência, não tem remédio."
Rainer Maria Rilke, "Histórias do bom Deus"
Sem comentários:
Enviar um comentário