quarta-feira, 6 de maio de 2009

Dez Reis de Esperança

"Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos á boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encostoda vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,viram,
e não perceberam,essas máscaras selectas,
antologia do espanto,flores sem caule,
flutuandono pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue."


António Gedeão

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