quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

TABACARIA

"Não sou nada.
Nunca serei nada.Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisasSenão uma despedida,
tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada."

2 comentários:

  1. Começar isto com o meu poema favorito é, bolas, uma forma perfeita de abrir o "estaminé"!

    Espero que apanhes o "bichinho" dos blogues! ;)

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  2. Pouco ou nada há mais para dizer, até porque tudo aquilo que importa não se resume a um simples texto... Mas para quem quiser ficar com uma amostra de quem és, apenas tem que dispensar uns minutos e visitar este blog...

    Beijinhos e continua assim =)

    PS: tu sabes que não tenho muito jeito para isto, mas sei também que me conheces o suficiente para saber que não é o que digo ou que escrevo que descreve ou demonstra a nossa amizade...

    A.M.F

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